Segundo Antoine Lavoisier, “na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Ou seja, mesmo as fontes de energia, em determinado tempo, se transformarão em outra fonte de energia, fazendo do Planeta Terra um “imenso sistema fechado”, onde nada se perde ou se cria. Nessa linha, na escala terráquea, podemos dizer que há conservação de massa e de energia, confirmando-se a tese de Antoine Lavoisier.

Mas, numa concepção imediatista do ser humano, que possui uma escala bem menor do que formação e transformação do Planeta Terra, as energias não renováveis podem ser entendidas como sendo aquelas advindas de processos que dependem de grande escala de tempo, na linha da formação geológica e/ou solar, para se tornar disponíveis, tais como os combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo e gás natural) e a energia nuclear.

Já a energia renovável possui necessidade de tempo para sua obtenção com escala infinitamente menor do que da energia não renovável. Na energia renovável, as fontes são naturalmente reabastecidas e provenientes, principalmente, do sol, do vento, das chuvas, dos corpos d’água, das marés, das geotérmicas, das biomassas (resíduos orgânicos), dos biocombustíveis (biodiesel, etanol de cana-de-açúcar, etc) e do biogás, sendo esse último gerado em processos de digestão anaeróbia de resíduos orgânicos, tal como acontece em aterros sanitários, como o da CTR MARCA, a qual já conta com planta de geração de energia elétrica, a partir desse coproduto gasoso.

Fatores motivadores para se realizar estudos fontes renováveis de energia

Como dito, a escala de tempo para formação das fontes de energia não renováveis é extremamente elevada, não sendo viável, nas condições de consumo atual, aguardar esse grande período.
Assim, do ponto de vista de disponibilidade imediata, a fonte de energia não renovável pode ser considerada como “esgotável” e, caso não seja modificada nossa matriz energética para fontes renováveis, esses recursos naturais “não renováveis” podem acabar, gerando sérios problemas de abastecimento de energia elétrica no planeta.

Os combustíveis fósseis possuem carbono e outros compostos que estão “armazenados”, por muito anos, no solo do Planeta Terra. A metodologia para geração de energia elétrica com esse tipo de combustível consiste em queimá-los, lançando, assim, grandes quantidades de carbono e outros compostos na atmosfera, que estavam, anteriormente, “aprisionados” nas bacias de petróleo.

O investimento e incentivo dos órgãos governamentais ou de empresa privadas são cruciais?

Por intermédio de estudos que demonstrem viabilidade, tanto nos aspectos socioeconômicos, técnicos e ambientais, é importante que o governo ou a iniciativa privada (em parcerias público-privadas, por exemplo) invistam em energias renováveis.

A principal fonte de energia elétrica no Brasil é a hidrelétrica, ou seja, advinda da geração que utiliza o potencial de cursos d’água superficiais. Atualmente, as usinas hidrelétricas são responsáveis por, aproximadamente, 70% (setenta por cento) da matriz energética brasileira, com geração de 13 GW (treze gigawatts), na década de 1970, evoluindo para próximo a 70 GW (setenta gigawatts) no início do Século 21, ou seja, aumentando em mais de 400% (quatrocentos por cento) em cerca de 30 (trinta) anos (REZENDE, 2015).

De acordo com Rezende (2015), em 2015, informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), indicavam que havia, no Brasil, 1.122 (um mil, cento e vinte e dois) empreendimentos concebidos para geração de energia elétrica utilizando fonte hidráulica. Mas, no Plano Decenal de Expansão de 2022, elaborado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), está previsto que a participação das usinas hidrelétricas irá cair para 65% (sessenta e cinco por cento), fato esse gerado, provavelmente, pelas grandes dificuldades de licenciamento ambiental dessas usinas hidrelétricas, visto os imensuráveis impactos ambientais e sociais ocasionados pela construção e operação desse tipo de empreendimento.

Paralelamente, o mesmo Plano estabelece que a demanda de energia elétrica no país cresça à taxa anual de 4,2% (quatro, vírgula dois por cento), chegando-se a potência instalada de 91 GW (noventa e um gigawatts) em 2022 (REZENDE, 2015).

Ademais, como observado recentemente, foi verificado, em todo país, severa crise hídrica, ressaltando-se o que foi vivido no Estado de São Paulo e a triste realidade encontrada no Estado do Espírito Santo. Com essa crise hídrica, indiretamente, por conta da grande participação das usinas hidrelétricas na matriz energética brasileira, com o aumento a operação de usinas termelétricas, custos com energia elétrica foram incrementados, para as pessoas e para as empresas, e, por consequência, os preços pagos, pelos diversos setores econômicos e pela população do Brasil, subiram.

No país, o aumento das usinas termelétricas, além de elevar o preço da tarifa de energia elétrica, incrementa as emissões de poluentes atmosféricos, devido ao fato de que essas unidades, em sua grande maioria, utilizam combustíveis fósseis, tais como o carvão mineral, gás natural, etc.

Adicionalmente, essas usinas termelétricas necessitam de geração de vapor d’água, visando a movimentação de turbinas, e o aumento da operação delas eleva o consumo de água, recurso esse tão escasso atualmente. Ainda, esse vapor é condensado e, parte dele, pode ser descartada, com altas temperaturas, em corpos d’água, como rios, córrego e mares, o que altera as condições naturais desses, impactando, de maneira relevante, a fauna e a flora aquáticas.

Neste contexto, considerando-se os aspectos listados, relativos ao aumento da demanda energética, à escassez hídrica, à redução da participação das hidrelétricas, no abastecimento de energia elétrica, aos impactos ambientais negativos e ao aumento da tarifa, relacionados ao incremento da operação de termelétricas, entende-se que alternativas devem ser estudadas e implementadas na matriz energética brasileira, principalmente aquelas de fontes renováveis, tais como o biogás, a solar, a eólica, a biomassa, etc.

Bruno Locateli
 

 

Bruno Locateli de Freitas,  é sócio-proprietário da MOMENTUM ENGENHARIA, da OPERA AMBIENTAL e da CONSTRUTORA BRANDI LOCATELI, Professor do Colegiado de Engenharia Química da UCL, Graduando em Engenharia Química, Técnico em Eletrotécnica, Tecnólogo em Saneamento Ambiental, Engenheiro Civil, Engenheiro de Segurança do Trabalho e Mestre em Engenharia Ambiental.

 

 

Gostou do conteúdo? Confira outros artigos como este no blog da Marca Ambiental:

O dia da nossa casa

Descarte incorreto de resíduos gera impactos negativos no solo

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NAIME, R. Impactos de termelétricas, artigo de Roberto Naime. Ecodebate-Cidadania e Meio Ambiente. Mangaratiba/RJ, 2010. 

REZENDE, L.C. É PRECISO DIVERSIFICAR A MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA. Canal-Jornal da Bioenergia. Goiânia/GO, 2015.